Wednesday, June 20, 2007

Wednesday, June 13, 2007

Imagem

O termo imagem é um conceito cuja definição não é simples. Trata-se de um conceito associado a inúmeros significados, alguns dos quais sem que haja entre eles uma ligação muito clara. De uma pintura rupestre a uma pintura abstracta, de um desenho de criança a um esquisso de arquitecto, da fotografia ao cinema, passando pelos cartazes publicitários, pelos graffitis ou ainda pelas imagens de marca ou pelas imagens mentais, a diversidade de significados é surpreendente. Contudo, se atentarmos para o leque acima enumerado, facilmente concluímos que uma imagem designa algo, não remetendo porém sempre para o visível, podendo ser concreta ou imaginária, mas que surge no entanto sempre dependente de um sujeito, quer ao nível da sua produção ou do seu reconhecimento.

De uma maneira geral, uma imagem será compreendida como algo que se parece com outra coisa, uma representação analógica essencialmente visual, produzida, desde os seus primórdios, como afirma John Berger, “para evocar a aparência de algo ausente”. Mais tarde, com o decorrer da História, a imagem tornou-se no registo de algo visto por alguém, isto é, a imagem surgia dependente do seu produtor, sendo que esse olhar fazia igualmente parte integrante dela própria. Desta forma, convirá pois salientar o facto da imagem surgir dependente de um olhar de um sujeito, isto é, ela é o resultado de um acto cultural do homem, na medida em que representa e transporta para o seu interior, as suas vivências, as suas experiências, a sua cultura, o seu ponto de vista.

Assim, Jacques Aumont, refere que “a imagem é sempre modelada por estruturas profundas, ligadas ao exercício de uma linguagem”, bem como reflecte o vínculo “a uma organização simbólica (a uma cultura, a uma sociedade)”. A imagem é pois, ainda de acordo com Aumont, “um meio de comunicação e representação do mundo, que tem o seu lugar em todas as sociedades humanas”.

Contudo, uma outra questão atravessa as imagens que vemos, quer consideremos esse acto individualmente quer inserido numa actividade colectiva – a questão da visibilidade. Para que as imagens se tornem visíveis, é necessário a existência de um meio de suporte ou transmissão, um medium.

Uma abordagem teórica da história da imagem, terá forçosamente de ser uma abordagem antropológica, na medida em que foi o homem que produziu (e continua a produzir) as imagens, sendo ele mesmo que posteriormente as consome. O homem faz assim parte integrante do processo de produção / recepção das imagens. A mediar esses dois extremos do processo, encontra-se o medium que confere a visibilidade à imagem. Assim, tal como refere Hans Belting, uma abordagem da imagem enquanto “fenómeno antropológico”, implica uma análise da mesma em função de uma relação de três parâmetros distintos: imagem - medium - olhar ou imagem - dispositivo - corpo, ficando assim estabelecida uma correlação entre o “corpo que olha” e o “medium que é olhado”.

Esta correlação deverá contudo ser entendida como um todo, uma totalidade significante, numa perspectiva próxima à abordagem efectuada por Jay Ruby sobre a refexividade na Antropologia Visual. Ser reflexivo em termos de trabalho antropológico, implica que os próprios antropólogos se revelem, e revelem a sua metodologia enquanto instrumentos igualmente geradores de dados, concebendo a produção de comunicação, como um todo coerente, do seguinte modo: produtor-processo-produto.

Ler uma imagem não significa apenas ver uma imagem, mas conduz-nos a uma enorme quantidade de informação, um acto de constantes interacções. Uma relação que é estabelecida entre leitor e imagem, entre leitor e produtor, mediada por um medium, ele próprio parte integrante de todo o processo. Neste sentido, Román Gubern avançou com uma “definição antropológica da imagem”, referindo que “a imagem icónica é uma modalidade da comunicação visual que representa de uma forma plastico-simbólica, sobre um determinado suporte físico, um fragmento do olhar ou reproduz uma representação mental, e que é susceptível de conservar-se no espaço e no tempo para constituir-se enquanto suporte de comunicação entre épocas, lugares e / ou sujeitos distintos, incluindo entre estes últimos o próprio autor da representação em momentos diversos da sua existência”.

AUMONT, Jacques (2005), A Imagem, São Paulo, Papirus Editora.
BELTING, Hans (2004), Pour une Anthropologie des Images, Paris, Gallimard.
BERGER, John (org.) (2005), Modos de ver, Barcelona, Editorial Gustavo Gili.
GUBERN, Román (1987), La mirada opulenta, exploración de la iconosfera contemporánea, Barcelona, Gustavo Gilli.
RUBY, Jay (1980), «Exposing yourself: Reflexivity, anthropology and film», Semiotica, 30 – 1/2: 153-179.