Saturday, January 17, 2009

Hot & Wet... o sibilar do vapor


© Fernando Faria Paulino

Diversidades culturais

Quando em meados dos anos 80 iniciei os preparativos para aquela que viria a ser, a minha primeira "expedição" ao norte de África, estava longe de imaginar a quantidade de alterações que tal viagem viria a provocar na minha vida. Modificaram-se as formas de pensar, de agir, alterei a minha ordem de valores, alterei a minha própria profissão. A minha filha recebeu o nome de Sara, em honra ao deserto, e apenas não alterei a minha residência, seguindo porventura o velho ditado tuaregue "quanto mais afastadas estão as nossas tendas, mais juntos estão os nossos corações". Nunca mais deixei de pensar e sentir o deserto do Sara.

O deserto transformou-me num viajante, em tudo o que de bom e de mau representa a viagem em si. Estabeleci amizades, laços familiares, dei, recebi e partilhei. Mas de igual modo fui vítima das viagens. Vivi em condições deploráveis, fui enganado, contraí a febre tifóide, a parvovirose B19 e tive um pneumotórax espontâneo...

Desinteressam-me as “expedições” e as viagens, vulgo designadas às regiões remotas, destinos exóticos, cujos panfletos e programas apregoam "o contacto estreito entre povos e culturas", e denominadas grosso modo por "viagens de aventura", o mito da viagem. Nessas, o que está em causa é o simbólico da aventura, o ser explorador do século XXI nem que seja por apenas meia dúzia de dias, enfrentar perigos, desafios, cruzar desfiladeiros ou tentar a travessia de pontes prestes a ruir, enfim a representação – ou remitificação – da aventura. Regressados, exibem-se aos familiares e amigos algumas fotografias de autóctones e aldeias, atravessadas num minuto, e contam-se umas quantas histórias sobre situações, ocorrências, consideradas absurdas, ridículas ou caricatas. Esse "contacto estreito" de slogan, que permitiria, conforme refere Geertz (1993:14) dissolver a opacidade de um povo e de uma cultura, fica-se apenas pelas breves linhas dos panfletos e guias turísticos, dirigidos a esses mesmos candidatos a "exploradores".

Somos socializados com tendência etnocêntrica. Tudo o que advém de outras culturas é para desconfiar, e mais ainda se o espaço que ocupamos é pertença dessas outras culturas. Tentamos a todo o custo tornar os nossos códigos culturais como "sobrecultura", e as nossas interpretações sobre ocorrências vivenciadas baseiam-se apenas nesses códigos únicos, em cuja validade e universalidade acreditamos. Conforme Franco Crespi (1997:21) refere, a nossa tendência é a de interpretarmos actos, "relacionando-os com significados que nos são familiares", mas é um facto que nem sempre os compreendemos, e o "problema complica-se se, de um mundo que nos é familiar, passamos a um mundo que nos é desconhecido".

Tudo se resume à "humana diversidade" (Mills, 1977:136), ao facto de entrarmos num mundo que nos é desconhecido, com códigos culturais distintos dos nossos. Puras diversidades culturais. Segundo Giddens, são essas "diferenças culturais que fazem a distinção das sociedades umas das outras" (1994:38). Em dada altura acreditei ser esse o objectivo das viagens desse tipo, conhecer outros povos e culturas, sem preconceitos de qualquer espécie. Puro erro, e hoje estou quase certo que perante o crescimento de mobilidade da sociedade actual, aumente igualmente a sua tendência etnocêntrica. De acordo com Lévi-Strauss, "a diversidade das culturas humanas (…) é menos função do isolamento dos grupos, que das relações que os unem" (1996:16).

Se todos pudessem ler Lévi-Strauss! "Odeio as viagens e os exploradores. (…) o peso da fome, do cansaço, por vezes da doença", que reduzem a vida "a uma imitação do serviço militar" (1993:11).


CRESPI, Franco (1997), Manual de Sociologia da Cultura, Lisboa, Editorial Estampa.
GEERTZ, Clifford (1993), The Interpretation of Cultures, London, Fontana Press.
GIDDENS, Anthony (1994), Sociology, 2ª edição, Cambridge, Polity Press.
LÉVI-STRAUSS, Claude (1993), Tristes Trópicos, Lisboa, Edições 70.
LÉVI-STRAUSS, Claude (1996), Raça e História, 5ª edição, Lisboa, Editorial Presença.
MILLS, C. Wright (1977), L'imagination Sociologique, Paris, François Maspero.

Sunday, January 04, 2009

Playing for change: peace through music

Num início de ano, desde já conturbado, merece referência o projecto Playing for change: peace through music.



"Playing for change is a multimedia mouvement created to inspire, connect and bring peace to the world through music" (playingforchange).